mayo 12, 2006

Amorim não descarta retirar embaixador de La Paz.

Publicado en Folha.

CAROLINA GLYCERIO
da BBC Brasil, em Viena

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista durante a Cúpula de Viena, não descartou a retirada do embaixador brasileiro em La Paz por causa das acusações do presidente boliviano, Evo Morales, contra a Petrobras.

"Prefiro não discutir todos os meios que pretendemos usar. Acho que isso não é produtivo. Tudo tem que ser analisado", afirmou Amorim, ao ser questionado se o Brasil pretendia retirar o embaixador.

Atualmente, o cargo na capital boliviana é ocupado por Antonino Mena Gonçalves.

"Acho que não vamos retirar o embaixador simplesmente pelo que ainda está sendo discutido. Mas, evidentemente, se verificarmos que não há dialogo possível, nós vamos examinar as opções que existem", disse.

"Vou examinar com o presidente Lula as opções diplomáticas com equilíbrio e serenidade. Não vou ficar fazendo ameaça, porque não adianta", acrescentou Amorim que tem uma viagem marcada para a Bolívia no fim de maio.

"Temos que ter certeza onde estamos pisando. Quem quer mais investimento, quer entendimento, porque não pode haver mais investimentos e, ao mesmo, tempo confisco", concluiu o ministro das Relações Exteriores.

"Fatores estranhos"

Amorim disse, no entanto, que as conversas continuam e que o governo brasileiro se baseia nos contatos que teve com autoridades bolivianas mais do que nas declarações de Morales.

"Acho que as conversas que nós temos bilateralmente e os documentos que nós assinamos têm para nós mais valor do que aquilo que é dito em público, às vezes, influenciado por fatores que são estranhos às negociações em si."

"Preferir a política de boa vizinhança não exclui defender com energia os nossos interesses, a imagem da Petrobras– que é uma empresa da qual nos orgulhamos– e os interesses brasileiros, mas sempre que possível pelo diálogo."

Sobre a polêmica a respeito do pagamento de indenização à Petrobras, o ministro disse que as negociações terão apoio do governo brasileiro.

"Naturalmente que os investimentos feitos pelo Brasil, se passarem ao um controle diferente, têm que ser compensados. Essa discussão não foi aprofundada bilateralmente", disse.

Em meio à divisão enfrentada pelos países da América Latina e mesmo dentro do próprio Mercosul, Amorim manteve o discurso otimista ao falar da integração regional.

"O Mercosul é o instrumento de integração mais poderoso do mundo. O Brasil não defende integração da América do Sul por causa da ideologia. Achamos que é importante pelo poder de barganha na região", disse Amorim.

O ministro reagiu também às declarações dadas na quinta-feira pelo ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada.

Soliz Rada disse que, para a Bolívia participar do projeto do gasoduto vindo da Venezuela, seria necessário que as empresas participantes fossem estatais, e que 60% da Petrobras está nas mãos de estrangeiros.

"Se a Petrobras não participar do gasoduto do sul, não haverá gasoduto do sul. Ou, então, vai dar uma volta tão grande (que) vai virar gasoduto do oeste ou algo assim", afirmou Amorim.